terça-feira, 18 de novembro de 2008

Capítulo I


Maria era uma moça de 16 anos que vivia em um pequeno lugarejo no interior de Minas Gerais. Órfã desde os 9 anos e filha mais velha, era dela a responsabilidade de cuidar dos seis irmãos enquanto seu pai, alfaiate, costurava para sustento de todos. Tamanha responsabilidade fez com que Maria perdesse aos poucos a alegria infantil e trouxesse em seu cenho o peso do papel de dona-de-casa. Embora jovem, sua fisionomia era de mulher vivida.

Em um fim-de-semana de festa, Maria conheceu Ovídio, um violonista que viera se apresentar em um dos botecos da cidade. Foi amor à primeira vista: trocaram olhares apaixonados, ela da janela de casa e ele, com violão debaixo do braço, na rua. Naquele tempo, as poucas oportunidades de conversarem se resumiam à missa e a procissão. Não perderam tempo, apesar da timidez de ambos. Ovídio sabia conduzir bem uma conversa, era gentil, cavalheiro. Acostumada às durezas da vida, Maria se encantou com o jeito charmoso do rapaz. Ovídio não pensou duas vezes e quis pedir ao pai de Maria para namorá-la. Era a mulher de sua vida. Nunca sentira tamanha alegria em estar do lado de qualquer outra mulher.

No dia seguinte, Ovídio se dirigiu à casa de Maria. Como ela não havia dito nada ao pai, ele ficou muito surpreso com o atrevimento do rapaz e não permitiu o namoro. Afinal, quem era ele para entrar em sua casa? Nem sabia de qual família era, de onde vinha, e o que fazia, além de tocar em botecos, para ganhar a vida? Queria um homem de futuro para sua filha, que a sustentasse como merecia. Se fosse para sair de casa, que fosse para viver melhor que ali. Caso contrário, ficasse solteira para sempre.

E foi com essas palavras que enxotou Ovídio de sua casa.